Na manhã de 10 de junho, o Brasil conquistou o título da Global Cup, competição entre seleções da PBR – Professional Bull Riders, que teve sua segunda edição disputada na Austrália. Levando em consideração os dois títulos conquistados na extinta PBR World Cup, o Brasil é tricampeão mundial por seleções de montaria em touros, além dos nove títulos individuais.
A conquista foi ás vésperas da Copa do Mundo de futebol, esporte no qual muitos brasileiros estão desacreditados. Sendo assim, este título dos nossos bull riders deveria repercutir muito bem na mídia nacional, um esporte onde somos praticamente imbatíveis e não muito raramente, nos enche de orgulho. Mas o fato é que o título não chamou a atenção da mídia, pois o rodeio como um todo já não atrai tanto os olhares como antigamente por aqui.
Os competidores brasileiros como nas outras vezes, se empenharam, se esforçaram e conquistaram o título, que todos nós que trabalhamos ou amamos rodeio, vamos ostentar com orgulho. Porém, por aqui, pouco temos feito para honrar os títulos que eles conquistam lá fora. A “indústria rodeio” no Brasil não soube tirar proveito dos títulos que conquistados ao longo das duas últimas décadas.
O Brasil conquistou seu primeiro título mundial nas arenas de rodeio em outubro de 1994, quando Adriano Moraes se tornou o primeiro campeão da PBR – Professional Bull Riders. A recém-criada PBR ainda era uma “promessa”, mas do lado de cá, vivíamos uma época favorável ao rodeio brasileiro, que havia experimentado um grande crescimento no final da década anterior e início dos anos 90. A competição dentro da “Festa do Peão” se consolidava e atraia público em boa parte do país. Tínhamos campeonatos televisionados em rede nacional, grandes marcas como patrocinadoras e premiações fartas para a época.
Adriano Moraes foi o único representante do Brasil na elite da montaria em touros durante os três primeiros anos da PBR, ganhando a companhia de Rogério Ferreira somente em 1997 e um reforço maior a partir de 1998, que desde então não parou de crescer. No início de junho, 16 dos 30 melhores competidores da elite mundial, eram brasileiros. Somos uma potência esportiva dentro do maior campeonato de rodeio do mundo, mas aqui, no quintal de casa, não conseguimos fazer a mídia acreditar que o rodeio é um esporte.
Nosso abismo é ainda maior quando comparamos com o crescimento de outros esportes. Em maio foi realizada no Rio de Janeiro a etapa brasileira do Circuito Mundial de Surfe (WSL), evento que arrecadou R$ 9 milhões em patrocínio. Este valor recorde chamou a atenção de todos e é resultado de uma recente popularização do Surfe profissional no Brasil nos últimos anos, principalmente após os dois primeiros títulos mundiais conquistados por brasileiros na história do esporte, com Gabriel Medina em 2014 e Adriano Souza em 2015.
Em cinco décadas do principal campeonato de Surfe do mundo, que teve início nos anos 70, o Brasil sempre teve boas participações, mas nunca havia conquistado o título mundial, que só veio após 40 anos. Faz apenas quatro anos que o Brasil chegou ao topo do Surfe, mas a “indústria do surfe” está sabendo aproveitar cada momento do interesse da mídia e dos patrocinadores por aqui.
A comparação entre surfe e rodeio, por várias questões, não é tão justa. São esportes diferentes, com estruturas e histórias diferentes. Mas todos já ouviram ao menos uma vez nos últimos anos alguém reclamando porque a mídia estava dando tanta atenção para o Medina e não se importava com nossos competidores, não é mesmo? Geralmente, a “indústria do rodeio” no Brasil aceita comparações com outros esportes quando é para fazer uma reclamação, porém, quando se trata de absorver o que os outros esportes fazem de bom, todos refutam qualquer comparação.
Qualquer um consegue enxergar o quanto o rodeio brasileiro deixou de crescer nos últimos anos mesmo com as conquistas destes títulos todos. Claro, evoluímos em várias questões desde 1994, ano de nosso primeiro título mundial, mas no geral, os títulos brasileiros não serviram para nada quando pensamos no esporte como mercado. Costumo dizer que os títulos não são nossos, são apenas dos competidores que os conquistaram, com seus próprios méritos, pois por aqui, não costumamos fazer nada que honre seus títulos.
Dos 12 títulos mundiais do Brasil na montaria em touros, sete foram conquistados após o ano de 2008, já na era do boom da internet e redes sociais, ambiente perfeito para um esporte crescer e conquistar fãs.
Não há como culpar cicrano ou beltrano, esse ou aquele fator. O que impediu o rodeio brasileiro de crescer com o potencial que podia ter crescido nas últimas décadas, foi uma junção de tudo, a famosa “união” sonhada por alguns, mas nesse caso, união de coisas negativas. O rodeio brasileiro “sobrevive”, ano após ano vamos levando com a barriga, com grandes probabilidades de daqui 10, 15 anos, ainda estar no mesmo patamar ou talvez menor do que está hoje.
Em novembro, possivelmente conquistaremos nosso 10° título mundial individual pela PBR e 13° no geral, algo inédito para um “esporte” popular e não olímpico no Brasil. E usei aspas em esporte, porque sim, a mídia nacional não considera o rodeio um esporte. Teremos mais um título, mas continuaremos sem grandes mídias, sem grandes marcas interessadas em investir em patrocínios, sem público de mercado, enfim, já passou da hora de começarmos a usar nossos títulos conquistados heroicamente pelos competidores lá fora, para fazer o rodeio crescer e evoluir por aqui.
P.S.: Contando com os títulos no Laço, conquistados por Junior Nogueira em 2016 e Marcos Costa em 2017, o Brasil tem 14 títulos mundiais nas arenas de rodeio, mas como as provas cronometradas vem seguindo um caminho bem diferente do rodeio no Brasil – caminho positivo em relação a crescimento – não seria justo citá-los como parte da “indústria rodeio” e dividir com eles esta conta pesada.
ABNER HENRIQUE é publicitário, produtor de eventos e fanático pelo rodeio há mais de 20 anos. É proprietário da Agência PrimeComm, agência que presta serviço de comunicação e marketing para eventos, campeonatos, empresas e profissionais do rodeio e provas equestres, além de fundador da PrimeComm Sports, atualmente a única agência de representação de atletas atuante no rodeio brasileiro