O Calgary Stampede completou no mês de julho, 106 anos de história. Considerado como o maior espetáculo ao ar livre do planeta, o evento reúne centenas de atrações durante 10 dias no Stampede Park, sendo o rodeio, a principal delas e que certamente teve a maior parcela sobre o sucesso do evento nestes mais de 100 anos.
Para manter o sucesso ao longo desse tempo todo, o Calgary Stampede precisou encarar um grande desafio ao longo das décadas: ser moderno, atrativo, muitas vezes até a frente do seu tempo, porém, sem abrir mão de suas tradições.
Não há dúvidas de que ele é um rodeio moderno. Como consta na matéria publicada aqui esta semana, este ano o Calgary Stampede foi o primeiro rodeio a ganhar cobertura em rede de TV Aberta nos Estados Unidos desde a década de 80. E não teria ganho este espaço, caso sua competição ainda tivesse a cara dos anos 80.
Para se tornar um produto de entretenimento e ganhar espaço em uma tarde de sábado em uma das gigantes da TV Aberta norte-americana, o Calgary Stampede não precisou tirar o chapéu dos cowboys, a música country ou regional do seu som ambiente, nem os cavalos ou touros. A tradição foi mantida, mas com muito profissionalismo e evolução.
Dentro e fora da arena há centenas de atrações culturais, que fazem os visitantes respirarem a tradição, mas não parar no tempo. O rodeio é conduzido de forma profissional, seguindo um cronograma de horários e protocolos respeitado por todos que atuam no evento, demonstrando o empenho em “fazer um rodeio para o público”, que por sinal é gigantesco.
Não haveriam tantos espectadores, não haveria interesse dos patrocinadores e muito menos 2 milhões de dólares em prêmios, se deixassem a “tradição” segurar a “evolução”.
E é justamente o que acontece em muitos casos no Brasil. Os opositores da evolução que o nosso rodeio precisa, usam como desculpa a tradição, para justificarem terem parado no tempo. Quem não se recorda ai de toda vez que há a tentativa de implantar algo profissional e evoluído no rodeio brasileiro, surgir as célebres frases do tipo “estão querendo acabar com a nossa tradição”.
Com a desculpa de manter a tradição, muitos eventos passam longe do profissionalismo por aqui, apesar de se declararem grandes, sempre com o apoio daquela parcela de pessoas que sabem que onde a evolução chegar, perderão seu espaço.
Então esta é a grande lição que o Calgary Stampede nos deixou. É possível ser moderno, absorver evolução e mesmo assim, manter as tradições culturais da “peãozada”. Caso o Calgary Stampede não sirva de exemplo por estar no primeiro mundo, no Brasil temos bons – apesar de poucos – exemplos de eventos que evoluíram sem deixar de lado as verdadeiras tradições. Se inspirar no que tem dado certo, faz um bem danado.
ABNER HENRIQUE é publicitário, produtor de eventos e fanático pelo rodeio há mais de 20 anos. É proprietário da Agência PrimeComm, agência que presta serviço de comunicação e marketing para eventos, campeonatos, empresas e profissionais do rodeio e provas equestres, além de fundador da PrimeComm Sports, atualmente a única agência de representação de atletas atuante no rodeio brasileiro