O RODEIO ESTEVE PRESENTE NAS OLÍMPIADAS DE INVERNO DE CALGARY EM 1988 E SALT LAKE CITY EM 2002
Um questionamento comum dos fãs é porque não há Rodeio nas Olímpiadas. Explicamos em uma matéria especial anteriormente os motivos porque o Rodeio não faz e não dificilmente fará parte dos Jogos Olímpicos como um esporte oficial, porém, algo que muitos fãs principalmente no Brasil desconhecem é que o Rodeio já fez parte dos Jogos Olímpicos.
Foram duas ocasiões onde as competições de Rodeio fizeram parte do principal evento esportivo do mundo. Primeiro nos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary no Canadá em 1988 e novamente nos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City nos Estados Unidos em 2002. Em ambas as ocasiões o Rodeio foi introduzido como parte da programação cultural dos Jogos e teve apenas a participação de atletas norte-americanos e canadenses, sendo que as medalhas não contavam para o quadro de medalhas dos respectivos países.
Os Jogos Olímpicos de Inverno são uma extensão das Olímpiadas principais, mas são reservadas a esportes praticados no gelo e na neve, por isso acontecem em um evento à parte em cidades extremamente frias, porém tem a mesma importância dos “Jogos de Verão” para estes esportes. Por contarem com menos modalidades esportivas, as Olímpiadas de Inverno abrem espaço para os organizadores locais realizarem outras atividades completando a programação em busca de atrair mais público.
E foi neste contexto que o Rodeio ganhou espaço em ambas as edições, combinando os esforços de entidades do nosso esporte, apoio das autoridades locais e condições logísticas favoráveis, já que as duas cidades se localizam em regiões tradicionais na realização de Rodeio. Como explicamos em nossa matéria especial, ter Rodeio oficialmente nas Olímpiadas é apenas um sonho por diversos motivos, sendo a única possibilidade talvez um dia ser novamente realizado como atração extra em uma edição dos Jogos de Inverno na América do Norte.
RODEIO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE CALGARY 1988
Para complementar a programação dos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary foi realizado o Olympic Arts Festival (Festival de Artes Olímpicas) que abrigou diversas atividades esportivas e de entretenimento. Entre estas atividades estava a Rodeo ’88 Challenge Cup, que foi incluída devido a importância do Calgary Stampede não só para a cidade, mas para o país como um todo.
Como na época o Calgary Stampede que é o principal evento agropecuário do Canadá já tinha mais de 70 anos de história e o Rodeio era a atração mais popular do gigantesco evento, as competições foram colocadas na programação dos Jogos representando a cultura rural da região. Organizada pela diretoria do Calgary Stampede, a Challenge Cup aconteceu na Stampede Corral, uma arena multiuso que ficava localizado dentro do Stampede Park, onde acontece o tradicional evento no mês de julho.
As competições foram realizadas entre os dias 22 e 27 de fevereiro de 1988 e contaram oficialmente com seis modalidades de Rodeio: Montaria em Touros, Bareback Riding, Sela Americana, Laço Individual, Bulldog e Três Tambores. O Laço em Dupla na época não tinha muita tradição no Canadá e não fazia parte dos Rodeios, vindo a ser incluído na CPRA – Canadian ProRodeo Association, maior entidade do esporte no país, somente no ano 2000.
Cada modalidade contou com seis atletas sendo três representantes de cada país, que ficaram hospedados na Vila Olímpica junto com os atletas de outros esportes. Os canadenses foram selecionados com base na classificação da Canadian Finals Rodeo, a Final Nacional da CPRA do ano anterior. Já os norte-americanos foram selecionados através da PRCA – ProRodeo Cowboys Association, onde em cada modalidade garantiram a vaga o atual campeão e o vice-campeão mundial, além do campeão da Wrangler National Finals Rodeo de 1987.
Foram sete round’s disputados nos seis dias de competição com uma premiação total de cerca de 100 mil dólares. O formato da competição da Challenge Cup foi de somatória de bônus, ao invés de somatória de notas ou tempos, como é habitual nos Rodeios. Os três melhores de cada Round ganhavam respectivamente 50, 30 e 20 pontos, e foi a somatória destes pontos que definiu os medalhistas ao final dos sete round’s.
Os bônus também ajudaram a definir as medalhas por equipes e o time norte-americano ganhou o ouro ao totalizar 4.950 pontos, enquanto os canadenses somaram 3.140 pontos e ficaram com a prata. Nas competições individuais, os Estados Unidos também dominaram e conquistaram a medalha de ouro em cinco das seis modalidades disputadas, com destaque para a Montaria em Touros onde conquistaram todas as três medalhas da competição.
A única medalha de ouro canadense no Rodeio dos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary foi conquistada no Bareback Riding onde Robin Burwash superou o campeão mundial Bruce Ford por uma diferença mínima de pontos. No Laço Individual o lendário Joe Beaver ficou com o ouro, enquanto na Sela Americana a vitória foi de Clint Johnson, outro grande astro das arenas. Lance Robinson venceu no Bulldog e Marlene Eddleman ficou com o ouro nos Três Tambores, superando a recordista de títulos mundiais, Charmayne James que ficou com a prata.
Na Montaria em Touros o time norte-americano confirmou o favoritismo com Ted Nuce conquistando o ouro, enquanto Tuff Hedeman ficou com a prata e Lane Frost que era o atual campeão mundial garantiu o bronze mesmo sem poder montar nos três últimos round’s depois de sair desmaiado da arena na quarta noite. Lewis Feild, prata na Sela Americana e bronze no Bareback Riding, e Greg Cassidy, prata no Laço Individual e no Bulldog foram os dois únicos que competiram em mais de uma modalidade.
Embora realizada dentro das dependências do próprio Stampede Park com uma pequena capacidade de público na arena, a Rodeo ’88 Challenge Cup despertou atenção dos turistas e da mídia em geral, sendo um grande meio de divulgação do Rodeio para novos públicos. Para completar, a entrega das medalhas da competição foram realizadas durante a cerimônia oficial de encerramento dos Jogos Olímpicos de Calgary, diante de uma multidão de 80 mil pessoas.
RODEIO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE SALT LAKE CITY 2002
Depois de Calgary, os Jogos Olímpicos de Inverno tiveram duas edições na Europa e uma na Ásia, retornando para a América do Norte em 2002. Inspirados na iniciativa canadense de 12 anos antes, os norte-americanos levaram o Rodeio novamente para a programação do evento que foi realizado em Salt Lake City, estado de Utah. Desta vez os méritos foram da PRCA – ProRodeo Cowboys Association que trabalhou para que as competições fossem incluídas nos Jogos, contando, claro, com o apoio e o empenho da organização e das autoridades locais.
Apesar de não ser um dos principais estados no mapa do Rodeio, Utah tem uma forte tradição western e o esporte sempre foi popular por lá, inclusive com alguns competidores famosos. Além disso, a própria cidade de Salt Lake City, capital do estado, já tinha na época um Rodeio com grandes tradições, o Days of’ 47 Rodeo, facilitando para que o esporte das arenas fosse acrescentado como parte da programação da Cultural Olympic, agenda de atividades extras realizadas durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002.
O Olympic Command Performance Rodeo, nome oficial da competição, foi realizado no Davis Legacy Center em Farmington, cidade vizinha de Salt Lake City e que realiza no mesmo local outro dos famosos Rodeios do estado. Mesmo tirando as competições da capital, devido aos ginásios da cidade serem usados para outros esportes, a iniciativa de incluir Rodeio na programação cultural dos Jogos Olímpicos não evitou fortes protestos de entidades contrarias as atividades com animais, mas pode ser realizado sem maiores problemas devido ao preparo da PRCA em demonstrar que não havia maus-tratos no esporte.
Desta vez, as competições foram realizadas em apenas três dias, entre 09 e 11 de fevereiro de 2002 e novamente, foram restritas aos atletas dos Estados Unidos e Canadá. Os três melhores competidores de cada dia ganhavam bônus (50, 30 e 20 pontos) e as medalhas eram definidas pela somatória destes bônus ao final dos três round’s, assim como havia ocorrido em Calgary. Além de Montaria em Touros, Bareback Riding, Sela Americana, Laço Individual, Bulldog e Três Tambores, a PRCA incluiu também o Laço em Dupla, que havia ficado de fora na edição de 1988 devido a falta de tradição da modalidade no Canadá.
Cada país teve direito a cinco vagas por modalidade, totalizando 40 atletas em cada seleção. As vagas foram definidas com base nos Rodeios de 2001, sendo que os norte-americanos levaram em cada modalidade o melhor atleta do ranking da PRCA até o final do ano, além do campeão da Wrangler National Finals Rodeo, da Dodge National Circuit Finals Rodeo e das edições de verão e inverno da série Wrangler ProRodeo Tour. Já os canadenses definiram seus representantes através do ranking da CPRA, principal entidade do país e parceira da PRCA.
ESPECIAL: POR QUE NÃO TEM RODEIO NAS OLÍMPIADAS? ENTENDA
Com cerca de US$ 160 mil em prêmios totais e valendo oficialmente para o ranking mundial da PRCA, o Olympic Command Performance Rodeo viu uma verdadeira seleção de estrelas do Rodeio completo, contando com a presença de nomes como Fred Whitfield, Dan Mortensen, Lan LaJeunesse, Speed Williams, Rich Skelton, Sherry Cervi, Kappy Allen, Blue Stone, Scott Schiffner e Rod Hay. Entre nomes conhecidos dos brasileiros estavam Lee Akin, Rob Bell, vice-campeão no Rodeio de Barretos em 2008, Robert Bowers que também montou na arena de Barretos na década de 90 e Luke Ellingson, que competiu no Brasil no Rodeio de Rio Verde, ambos da Montaria em Touros e o lendário Rod Warren, campeão em Barretos na Sela Americana.
Os atletas canadenses Guy Shapka (Sela Americana) e Darrel Cholach (Bareback Riding), que também competiu m Barretos na década de 90, foram os únicos presentes nesta edição que também haviam competido nos Jogos Olímpicos de 1988. Já o lendário competidor nativo de Utah, Lewis Feild que havia ganho três medalhas em Calgary, por equipes e nas duas modalidades de montaria em cavalos, já estava aposentado na época, mas trabalhou na edição de 2002 como madrinheiro. A lista de profissionais contou também com o locutor Bob Tallman, os salva-vidas Rob Smets e Joe Baumgartner, além do animador de arena Flint Rasmussen, que na época atuava pela PRCA, antes de se tornar exclusivo da PBR.
Após os três round’s de disputa os norte-americanos novamente levaram a melhor, conquistando 17 das 21 medalhas, incluindo o ouro em quatro modalidades individuais e também na somatória de seleções, onde totalizaram 1.363 pontos contra 737 pontos dos canadenses. Assim como havia acontecido em Calgary, os Estados Unidos ficaram com as três medalhas na Montaria em Touros, com o bicampeão mundial Blue Stone ganhando o ouro após fazer duas montarias memoráveis de 95 e 96 pontos na competição. A medalha de prata ficou com Lee Akin, enquanto Cody Hancock levou o bronze.
No Bareback Riding e Laço Individual os norte-americanos também conquistaram as três medalhas, incluindo o ouro do lendário Lan LaJeunesse que venceu os três round’s na montaria em cavalos sem sela e Jerome Schneeberger vencedor no laço. As outras vitórias dos donos da casa foram nos Três Tambores com Molly Powell e no Bulldog com Rope Myers, ambas modalidades onde o Canadá ganhou suas únicas pratas na competição. Os dois únicos ouros canadenses vieram da Sela Americana com a vitória de Denny Hay e Laço em Dupla, com a disputa mais apertada do Olympic Command Performance Rodeo onde Murray Linthicum e Rocky Dallin superaram os recordistas de títulos mundiais Speed Williams e Rich Skelton por apenas cinco pontos.
Assim como já havia acontecido em Calgary, a inclusão do Rodeio nos Jogos Olímpicos de Salt Lake City em 2002 despertou muita atenção da mídia em geral, rendendo uma das maiores exposições que o esporte das arenas já viu na televisão e demais veículos de comunicação. O evento também atraiu celebridades e autoridades para o local das competições, incluindo o governador do estado que entrou na arena à cavalo em um dos dias do Rodeio.
E SERIA POSSÍVEL TER RODEIO NOVAMENTE NOS JOGOS OLÍMPICOS?
Como já explicamos na primeira matéria e foi possível perceber também nesta, ter o Rodeio como esporte olímpico, igual tantas outras modalidades que vimos recentemente nas Olímpiadas de Tóquio é um sonho impossível, pelo menos pelas próximas décadas e é recomendado que não se crie expectativas. Mas é claro que há o caminho extraoficial, estar presente nos Jogos Olímpicos como esporte exibição ou como nas edições de 1988 e 2002, como parte da programação cultural.
A cidade de Salt Lake City é pré-candidata a sediar novamente os Jogos Olímpicos de Inverno de 2030 e 2034, abrindo ai a possibilidade do Rodeio voltar a programação das Olímpiadas. Os Jogos de Verão de 2028 já estão definidos e também irão ocorrer nos Estados Unidos, em Los Angeles, mas a possibilidade do Rodeio ser um dos esportes indicados é praticamente inexistente, devido a cidade não ter tradição no Rodeio – se a sede fosse no Texas, talvez o Rodeio poderia ser candidato a uma vaga. Outro fator é que atualmente há uma luta para aprovação de uma lei municipal em Los Angeles que inviabilizará a realização de Rodeios na cidade caso for aprovada.
Assim, o caminho é mesmo Salt Lake City, que possivelmente deve ganhar o direito de ser sede em uma das duas vezes que for candidata. Depois dessa confirmação ai é a vez do próprio Rodeio – pessoas que atuam nele – trabalharem para convencer os organizadores a incluir o esporte nas Olímpiadas. Um ponto positivo é que além da PRCA, agora quem poderia se interessar e se empenhar para ter Rodeio nos Jogos Olímpicos seria a PBR, já que sua subsidiária WCRA – World Champions Rodeo Alliance, que organiza eventos de Rodeio em todas as modalidades tem uma de suas principais etapas exatamente em Salt Lake City, durante o Days of’47 Cowboy Games & Rodeo e os organizadores deste Rodeio dispõe de muita influência na cidade.