COM A MUDANÇA O CAMPEONATO MUNDIAL DA PBR PASSA A SER DECIDIDO NA DICKIES ARENA EM FORT WORTH NO MÊS DE MAIO
Na última terça-feira a PBR – Professional Bull Riders apresentou duas importantes e surpreendentes mudanças para a Temporada 2022. À partir do próximo ano a principal divisão do campeonato terá um calendário totalmente diferente do atual, durando apenas metade do ano e o Campeão Mundial será conhecido no mês de maio durante a PBR World Finals que passa a ser realizada em Fort Worth no Texas.
A mudança no calendário faz parte de uma reestruturação com claros objetivos comerciais, alinhando o formato de seu calendário com as principais ligas esportivas dos Estados Unidos, como explicaremos em detalhes abaixo. Já a mudança do local da Final Mundial envolve diversos aspectos, inclusive polêmicas políticas. Como estas mudanças valem somente à partir da próxima temporada, a PBR World Finals 2021 segue agendada para Las Vegas entre os dias 03 e 07 de novembro, quando fará sua despedida da cidade, mas Las Vegas ainda deve continuar recebendo outros eventos da PBR.
Com a alteração a PBR World Finals volta a ser realizada em dois finais de semanas à partir da próxima temporada e acontece entre 13 e 22 de maio, sendo três rounds na primeira semana (13 à 15 de maio) e outros cinco rounds no segundo fim de semana (19 à 22 de maio). Este formato de dois finais de semana já foi realizado entre 2004 e 2009, e deve dar ainda muito mais peso a Final Mundial com o aumento da quantidade de rounds e consequentemente de pontos disponíveis.
O novo palco do evento decisivo é a Dickies Arena, que sediou o Iron Cowboy no último fim de semana e no ano passado havia sediado também uma etapa da Unleash The Beast. Inaugurada em 2019, a moderna arena faz parte do Will Rogers Memorial Center, principal complexo de evento de Fort Worth. A cidade texana faz parte da história da PBR, pois foi onde ocorreu a primeira etapa oficial do campeonato em dezembro de 1993.
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Desde a sua temporada de estreia a PBR realiza sua Final Mundial em Las Vegas mantendo uma parceria histórica com a cidade, interrompida somente em 2020 quando o evento aconteceu em Arlington no Texas – cidade vizinha a Fort Worth, enquanto Vegas ainda não podia receber eventos com público. A cidade dos cassinos também já sediou outros eventos da entidade como a World Cup de 2010, diversas edições do Last Cowboy Standing, o Monster Energy Team Challenge realizado no ano passado exclusivamente para a televisão e mais recentemente uma etapa da temporada regular em junho.
Ainda de acordo com a PBR, Las Vegas deve seguir sediando algum evento seja dentro ou fora da programação da principal divisão. Com a mudança no calendário existe a expectativa de anuncio de novidades a serem implantadas entre os meses de maio e novembro, no intervalo entre uma temporada e outra. A aposta é que além das etapas da divisão de acesso e campeonatos nacionais, neste período ocorra a Global Cup, Team Challenge e algum outro evento novo a ser apresentado posteriormente.
ASPECTOS FINANCEIROS TIVERAM GRANDE IMPORTÂNCIA NA DECISÃO
Apesar do tom amistoso nas declarações oficiais sobre a saída de Las Vegas e a promessa de que a cidade de alguma forma continuará fazendo parte do calendário da PBR, os bastidores dessa mudança não foram nada tranquilos de acordo com algumas informações veiculadas inclusive pela imprensa. Assim, diversos aspectos contribuíram para levar a PBR a tomar uma das decisões mais radicais e surpreendentes de sua história.
Para começar entender é preciso citar que a PBR mantinha um acordo de longa data com a Las Vegas Convention and Visitors Authority (LVCVA), agência pública que gerencia o turismo no sul do estado de Nevada, em especial na cidade de Las Vegas. Com o acordo, a agência paga um valor anual para que o mais famoso evento de Montaria em Touros do mundo seja realizado na cidade, se beneficiando dos turistas que a PBR leva consigo. Além disso a marca “Las Vegas” aparece como uma das patrocinadoras oficiais dos eventos da principal divisão do campeonato realizada no país todo.
Este tipo de acordo teve início oficialmente em 1997, quando a cidade desembolsou pela primeira vez US$ 1 milhão durante o ano para garantir a PBR World Finals e o valor aumentou gradativamente conforme a PBR cresceu. Neste ano o valor pago pela LVCVA será de US$ 2,1 milhões, conforme divulgou o próprio conselho de administração da agência no início da temporada. É comum neste tipo de contrato que nos valores estejam incluídos além do repasse direto de verba, isenções e outros benefícios para viabilizar o evento, como obras de melhorias de locais, construções, entre outros.
Com isso, muitos acreditam que Fort Worth deve ter oferecido um valor maior que este para garantir a mudança do evento, o que embora possa ser verdadeiro, não foi o único fator. Como a programação da PBR World Finals inclui uma diversidade de eventos para os fãs, ainda sob o aspecto financeiro a realização do evento no Texas, na cidade que vive e respira o mundo western, pode gerar muitos benefícios a PBR, já que os turistas da cidade texana são muito mais ligados ao esporte de Montaria em Touros do que os de Las Vegas.
Deve-se acrescentar a isso também o fato da PBR ter se associado recentemente a outras duas empresas de entretenimento para assumir a administração do Cowtown Coliseum, local que realiza competições o ano todo na cidade e também realizará outros eventos no Stockyards District, área histórica de Fort Worth que recebe anualmente cerca de 4,7 milhões de turistas. Este ponto foi confirmado como um dos fatores importantes para a mudança pelo presidente da PBR, Sean Gleason.
RELAÇÃO COM GOVERNO DE NEVADA INFLUENCIOU NA MUDANÇA
Mas além dos aspectos financeiros e das infinitas formas em que a PBR deve capitalizar a Final Mundial no Texas nos próximos anos, o fator político pode ter sido decisivo para Las Vegas perder a sede do evento.
De acordo com um site local que cita fontes de dentro da PBR, a má relação do governo do estado de Nevada com a entidade nos últimos meses foi o principal motivo da mudança. O site cita que o governador do estado, Steve Sisolak não faz questão de manter diálogo com organizações que são declaradamente contrárias a algumas medidas restritivas que ele quer impor, como exemplo, o ‘passaporte da vacina’ que pode ser aprovado em breve em Nevada. Além da PBR existem outras organizações de esportes e entretenimento na chamada “lista negra” do governante, que nas palavras do site “assumiu como uma missão pessoal não viabilizar a realização destes eventos no estado.”
Ainda conforme o site, nos últimos meses a PBR tentou buscar soluções para a realização de eventos com menos restrições, inclusive elaborando planos e protocolos específicos, mas não obteve nenhuma resposta do governo estadual. Apesar disso a presença de público na Final Mundial deste ano está confirmada, mas pode ser realizada com muitas restrições que não é comum em outros estados. O próprio Gleason já havia declarado em uma entrevista no ano passado sobre as dificuldades de diálogo com o governo do estado na tentativa de encontrar soluções para realizar a PBR World Finals de 2020 em Las Vegas, antes de optar por transferi-la para o Texas.
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Com a mudança no evento do ano passado a PBR despertou um desejo antigo dos texanos em sediar o evento definitivamente em seu estado. Desde então a PBR e autoridades do estado passaram a tratar do assunto para tornar realidade a mudança, incluindo o apoio pessoal do governador do Texas, Greg Abbott, enquanto seu colega do outro estado fechava as portas.
Apesar da PBR World Finals não ser o principal evento anual de Las Vegas, a mudança deve ser sentida pelo setor de turismo da região. De acordo com a LVCVA, o evento da PBR de cinco dias atraiu média de 72 mil visitantes nos últimos anos e gerou um impacto econômico de US$ 28,6 milhões para a cidade em 2019. Em comparação, a Wrangler National Finals Rodeo que acontece durante 10 dias em dezembro – e também faz parte da citada ‘lista negra’ do governo do estado – gera um impacto econômico de cerca de US$ 187 milhões para Las Vegas.
Da mesma forma que a PBR, a ProRodeo Cowboys Association (PRCA) recebe incentivos para realizar seu principal evento na cidade. O acordo atual que vai até 2025 é com a Las Vegas Events, agência particular de produção de eventos ligada a LVCVA e que organiza a Wrangler National Finals Rodeo em parceria com a PRCA. Em 2013 a cidade de Kissimmee na Flórida propôs um acordo para sediar a WNFR no estado, mas a PRCA decidiu permanecer em Vegas após acertarem um novo valor para renovação. A PBR jamais havia tornado público nenhuma proposta de outra cidade para sediar sua Final até então.
TEMPORADA MAIS CURTA: O QUE MUDA EM RELAÇÃO AO FORMATO ATUAL
Mesmo com a saída da sedutora Las Vegas da programação da PBR World Finals, o fato que mais chamou atenção dos fãs e gerou discussão pelo menos entre os brasileiros foi a alteração no formato do calendário. A próxima temporada terá início em janeiro e se encerra em maio, para ajuste do calendário e nas temporadas à partir de 2023 ela começará em novembro do ano anterior, se encerrando em maio com apenas seis meses exatos de competição.
Nos outros seis meses a PBR deve se dedicar a eventos especiais como a possível volta do Team Challenge, competição entre equipes que foi sucesso de audiência na TV em 2020, Global Cup, a competição entre seleções, Iron Cowboy e Last Cowboy Standing, eventos de grande apelo de mídia e o fortalecimento das divisões de acesso, em especial os campeonatos nacionais no Brasil, Canadá, Austrália e México, que poderão contar com os competidores do Top mundial com mais frequência.
O formato não é muito comum no mundo do Rodeio, em especial na PBR onde o campeonato de sua principal divisão sempre durou no mínimo 10 meses. Com as finais acontecendo até então tradicionalmente em outubro ou início de novembro, era comum a temporada ter início em janeiro, mas também já houve anos onde a primeira etapa ocorreu em novembro ou dezembro do ano anterior.
Avaliando a mudança sob o aspecto comercial e esportivo, claramente a PBR tem como intenção ajustar seu calendário ao de outras ligas esportivas, que realizam suas competições somente em uma determinada época do ano. Isso cria uma maior fidelidade por parte do público, que tem mais facilidade de decorar o calendário e também beneficia o contrato com a televisão e os patrocinadores.
DESTAQUES DO SITE
Apesar de estarmos acostumados, o calendário atual da PBR é bastante inconsistente. No modelo atual – sem contar as alterações de 2020 e 2021 devido a pandemia – geralmente a principal divisão da PBR tinha cerca de 26 à 28 datas incluindo a Final Mundial que eram encaixadas durante 45 semanas no ano, ao longo de 10 meses. Assim, a “alta temporada” de janeiro até abril tinha etapas praticamente todo final de semana, depois aconteciam poucas etapas entre maio e agosto, voltando as etapas em semanas consecutivas em setembro e outubro.
Como conhecemos a PBR neste modelo, ele é mais familiar e qualquer alteração nos parece absurda, mas o fato é que poucas organizações esportivas utilizam um calendário desta forma, por dificultar os já citados acordos com a televisão e fidelidade público. Com a mudança, no próximo ano a PBR deve encaixar no mínimo 20 etapas em 22 semanas e à partir de 2023 tendo início ainda no ano anterior deve voltar a encaixar o mínimo de 25 datas em até 28 semanas.
Claro que a mudança tem pontos negativos e positivos. Entre os negativos estará a adaptação dos competidores com um ritmo mais intenso de etapas e principalmente o “prejuízo” para atletas que sofrerem lesões graves e que demandam várias semanas de recuperação. No formato atual por exemplo, um competidor que precisasse ficar três meses afastado por conta de uma lesão sofrida na 10ª ou 15ª etapa, faria com que boa parte da sua recuperação fosse no período em que há poucas etapas e ele ainda poderia voltar a disputar as últimas etapas de agosto em diante. Com o novo formato, três meses afastado seja qual for o período do campeonato já inviabiliza as chances de título. Mas são aspectos que os competidores irão se acostumar com o passar dos anos.
Entre os pontos positivos também há benefícios para os competidores, que não perderão o ritmo e a boa fase nos habituais intervalos que temos hoje. Para o mercado geral da PBR também há benefícios, pois em países como o Canadá e a Austrália as etapas já acontecem apenas em um determinado período do ano e isso possibilitará que os competidores do Top mundial estejam disputando também os campeonatos nacionais. No Brasil como o campeonato deve se iniciar em março, quem estiver no mundial poderia perder os primeiros meses do possível novo calendário com mais etapas da PBR Brazil, previsto para 2022, mas veríamos nossos principais competidores internacionais de volta aqui no meio e final do ano, como não é muito comum agora.
Para estas mudanças à partir do próximo ano a PBR talvez precise também alterar alguns detalhes no regulamento de competições. Atualmente todas as etapas das divisões de acesso valem também para o ranking mundial e é comum que os competidores pontuados nas etapas das outras divisões que acontecem após a PBR World Finals apareçam nos primeiros lugares do ranking até a realização da primeira etapa da divisão principal, que vale mais pontos.
Como o ranking se encerrará em maio, no regulamento atual as etapas das divisões de acesso e campeonatos nacionais realizadas em junho já contariam para o ranking da temporada seguinte. Assim, o ranking mundial ficaria seis meses apenas com os pontos das divisões de acesso, já que não estaria ocorrendo etapas da Unleash The Beast, o que causaria uma grande confusão no público. Certamente é algo que a PBR vai precisar ajustar, voltando ao regulamento antigo quando os pontos das divisões de acesso não valiam diretamente para o ranking mundial ou criando algum outro mecanismo para não gerar esta confusão.
Estes detalhes esportivos e de competição sempre rendem bons assuntos, então em breve voltaremos à abordá-los por aqui.